domingo, 12 de julho de 2009

Reabertura do Cine-teatro ou inauguração do Cinema de St.º António em Faro



Depois das profundas e radicais obras de remodelação do velho cine-teatro, que se prolongaram por quase meio ano, reabriu em ante-estreia no dia 31-12-1953 com a nova designação de Cine Santo António. Não se tratava de uma invocação protectora do célebre taumaturgo, que nada tinha que ver com “fitas”, mas antes uma alusão à artéria para que se abria a nova frontaria, cujos escaparates ostentavam os “cartazes” das três sessões de cinema com que abriu ao público, na tarde da passagem de ano, data que ficou tristemente enlutada pelo imprevisto falecimento de D. Maria da Conceição Corte-Real Moniz Nogueira, o que deixou as principais famílias da cidade arredadas da inauguração do novo cinema.
Apesar de tudo o descerramento da nova sala de espectáculos fez-se com a maior pompa e circunstância, ficando as autoridades presentes na plena consciência que a cidade passava a partir de então a desfrutar de um notável e moderno equipamento cultural, o mais vistoso e saliente de todo o Algarve. Dizia-se até que na província seria apenas superado pelo cinema de Aveiro, que acabava de ser inaugurado e fora construído de raiz segundo os moldes mais modernos e eficazes, ficando equipado com a mais actualizada tecnologia para a projecção cinematográfica.
Com efeito, o novo cine-teatro apresentava-se com uma decoração moderna de enorme bom gosto, cuja remodelação dos espaços interiores transmitiam uma invulgar elegância e raro conforto, com certos requintes de indisfarcável luxo. As cadeiras de veludo, as frisas para a elite citadina, as vitrines com os últimos gritos da moda parisiense (que já então chegava a Faro), os bares e até as modernas instalações sanitárias, davam uma imagem de actualidade e bem-estar, que suscitaram a admiração das autoridades municipais, e sobretudo causaram o melhor apreço nos amantes da 7.ª arte. Sóbrio, elegante, atraente e confortável, eram os principais atributos do Cine Santo António, cuja máquina de projecção era nova e automática. Uma casa de espectáculos muito ampla e airosa, para quase 1500 espectadores, segura e protegida contra o risco de incêndio, equipada com modernas e permanentes mangueiras e agulhetas, com piquetes de bombeiros em todas as sessões.
Quando começaram as obras de remodelação do velho e desactualizado cine-teatro, as actividades comerciais da empresa proprietária não ficaram desactivada, pois que anos antes havia investido fortemente na construção de outra casa de espectáculos, o Cine-Esplanada, um magnífico e amplo espaço ao ar livre, à imitação de outras esplanadas cinéfilas inauguradas na Andaluzia e nas principais cidades da orla mediterrânea. Situava-se em frente ao recém inaugurado Mercado Municipal, equipamento de grande interesse económico, considerado na época inestético pela sua exagerada volumetria. Hoje, no lugar do Cine-Espalanada existe um enorme mamarracho habitacional e o antigo Mercado foi demolido para no seu espaço se erguer um moderno centro-comercial.
Na sessão solene de inauguração do Cinema Santo António usou da palavra, em nome da Direcção da empresa proprietária o Dr. António Miguel Galvão, figura muito prestigiada na cidade pela sua nobreza de carácter e pelo seu valor intelectual, colaborador assíduo nos jornais locais e autor de alguns trabalhos de incontestável valia científica sobre a Companhia de Pescarias do Algarve, de que era accionista e funcionário superior. Respondeu-lhe, com elogiosas palavras de felicitação e de louvor, o Dr. Manuel José da Fonseca, na dupla qualidade de delegado distrital da Inspecção Geral dos Espectáculos e de honrado secretário geral do Governo Civil, que, em nome das mais altas instância do Estado, agradecia a abertura do novo cinema, reconhecendo que o mesmo representava um enorme passo na senda do progresso e da actualização cultural da cidade de Faro. Por ser a mais alta individualidade presente, coube-lhe a honra de cortar a fita com que simbolicamente se abriu ao público a nova casa de espectáculos da cidade, recebendo de imediato um forte aplauso das entidades convidadas para o solene evento.
Convirá acrescentar que entre os membros da direcção da empresa proprietária do Cine Santo António, cuja capital era constituído por acções vendidas aos principais empresários da cidade, pontificava a figura de Virgílio Caiado, que cuidou com grande esmero da decoração e conforto da nova sala, tendo-se encarregado da aquisição do equipamento de projecção o conhecido industrial João Pires, ficando encarregado da fiscalização técnica das obras o eng.º João Correia da Fonseca, também ele um reputado cidadão, muito estimado entre os seus conterrâneos.

J. C. Vilhena Mesquita

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