segunda-feira, 13 de julho de 2009

Duas quadras (pouco conhecidas) do poeta António Aleixo


No semanário farense «Correio do Sul», n.º 1367 de 27-6-1943, pode ler-se a propósito das Festas de S. João realizadas no Jardim da Alameda, que se efectuou um concurso de quadras populares, no qual o então ainda desconhecido poeta António Aleixo obteve o 2.º lugar, com esta quadra:

S. João – reparem nisto –
teve este grande condão
ao baptizar Jesus Cristo
foi quem fez Cristo cristão.

Não sei se esta quadra está recolhida na obra póstuma, Este Livro que vos deixo (1969), ou no volume de Inéditos (1979). Mas se não consta nas referidas obras também não se perdeu muito, porque, valha a verdade, a quadra não é lá grande coisa.
A título de curiosidade, acrescente-se que nas festas são joaninas desse ano (cujo produto revertia a favor do Hospital da Misericórdia) actuou a fadista Amália Rodrigues, tendo desfilado, pelas ruas da baixa citadina até ao Jardim da Alameda, as marchas do “Bonjoanense” com música do Dr. Francisco Evaristo e letra do poeta António Aleixo; também desfilaram a “Marchas do Montenegro”, com música de João Calvário e letra de Joaquim Vicente Júnior; a “Marcha das Pontes”, com música de A. da Silva Domingues e letra de Joaquim Vicente Júnior; a “Marcha do Alto de Rodes” com música de Herculano Rocha e letra do consagrado poeta Victor Castela. As quatro marchas executaram depois em conjunto a “marcha da cidade” com música e letra de Aníbal Guerreiro, que foi um prestigiado jornalista, escritor muito apreciado e um notabilíssimo empresário de viação, fundador da EVA, que é ainda hoje uma das maiores empresas rodoviárias do nosso país.

Acresce dizer ainda que, conforme consta no quinzenário «Voz de Loulé», n.º 47 de 1-11-1954, na p. 3, coluna intitulada “Chistes Louletanos”, assinado com o pseudónimo de “Bendisposto”, o poeta António Aleixo, referindo-se a pessoa muito conhecida naquela vila, teria pronunciado a seguinte quadra:

Entre leigos e letrados
Fala só de vez em quando
Que nós às vezes calados
Dizemos mais que falando.

Não sei se esta quadra está inédita ou se foi recolhida na obra completa do nosso emérito poeta popular. O que sei é que está muito boa, não só na sua silogística filosófica, como principalmente no seu cunho crítico de profunda acintosidade social. O conselho expresso nesta quadra evidencia a peculiar crítica social aleixiana: numa discussão entre ignorantes e sábios deve-se falar pouco e só a propósito, pois que para a contrariar, e evitar que se transforme numa verborreia estéril, o melhor é permanecer reprovadoramente em silêncio.


J. C. V. M.

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